Vozes

Uma parte de mim perece enquanto
escrevo esse verso,
outra parte quer viver enquanto penso
o verso que petrifica aquela
sensação ao longo dos anos.

Outra parte...(silêncios)
a outra, vive não nas palavras,
mas no conceito que por ora escapa
ao longo das horas e erros e eras
de um pretérito imperfeito
que engole a humanidade
em suas labirínticas línguas de papel.
Lua

Careca com cabeça clara
cheia, com caspas
claras, crocantes.
Couro cabeludo coça coça
crac
crac
caspcasp casp
crecas com champô caro.
Cabelo cinza caído com circunferências
cabeludas com cores
   as             c c
c p   cas  p a sp
 s ca ps a c pa s p

cabelo crespo
chama cem caspas
curto caminho cabuloso caído.
Chão com caspas clareiam chinelos castanhos...colorido, claro.
c
 a s
pas como as letras representativas
que compõem esse poema sujo
cacofônico de cacos orgânicos.
Filosofia ou aviso de parede

Ou você diz sim ou
não...
se cê se silenciar,
PSIU!
Selo postal

A língua colou em meu
ser e me prendeu
n´ação.
Para: Lola. Com amor e kms.

Num entrelaçar de dedos
criou-se uma mão,
uma vida direta.
Esquina das histórias cruzadas
que como um trem nos conduziu a
esta estação.

Sinto saudades daquele seu olhar.
Tão lindo é o mar que se assemelha à sua calma e
alma no pintar dos pássaros no laranja horizonte.
A contradição de amar é o presente que está
distante.

Num simples entrelaçar
houve uma ação,
houve uma criação.
Um mais um é três
assim como a constelação.

O vagão vazio está,
perdido em algum lugar chamado
Maceió.
Passado e futuro em flores e páginas apagadas...
Lembre esta data,
aqui a água é rasa.

Victor, 
Maceió, 13 de julho de 2015.
Escritório

Sinto necessidade de uma
janelajanelajanela
a                      l
n                      e
e                      n
l                       a
alenajalenajalenaj
para ver além dessa vida virtual de pixels.
00/13/1994

Como subsiste a dor quando não
há frente e me desintegro nas estrelas?

Se luta contra a solidão
acreditando em crenças,
acreditando em um amor que salva tão breve como o verão.

Talvez eu entenda um pouco de demência.
Aquele olhar perdido que se encontrou
nos átomos...pátio vazio. Átrio esquerdo...manequins em vermelho, 1603. a terceira porta se abriu.

Palavras são ocas:
fruto da árvore da comunicação.
Só florescem quando no chão.

Talvez eu possa entender a podridão.
Pássaro azul esmagado no asfalto:
cabeça no pneu...estrada, lama;
asa direita na bola, trave, moscas.
Cachorro queimado.

Livre arbítrio não há:
os antepassados e os porvir valem mais que as liberdades anunciadas.

Sua vida cabe numa folha de um livro qualquer.
Bebamos, então, a nossa tragédia nos goles do vinho e tragos da maconha.
Sentimentos são uma pedra: substitua-os por um coração ou com eles se afogue.
A verdade são lágrimas que purificam o ralo.

Eu entendo da loucura. Do eclipse que contêm a órbita ocular.
Homem solto no bosque solar sem o uso da razão
onde o tempo não nasceu.

Noites barulhentas no tumulto com pessoas confusas,
bêbadas e drogadas.
Amigos verdadeiros estão nas fotografias envelhecidas.

O sol vermelho me queima.
Última diástole do coração selvagem. Revolução espiritual.
Apatia é a tautologia da vida.
A partida é o nada.
Pensamentos, palavras, atos...
o orgulho é o nó.



Ilhas a descobrir

Quero reviver uma nova amizade.
Redescobrir os contatos que expandem visões,
mundos e ideias.
Trocar cartas e beber dos pingos
embebedados pelos náufragos afogados correspondentes.
Ver que o mundo é um verbete
que migra de dicionário.
Ter tanto para conhecer,
tanto para viver.
Histórias para contar e para ter saudade de tudo.
Sou um jovem estranho à própria escrita.
A névoa já invadiu memórias.
Sol azulado.
Fractais

Volta e horas outras do relógio
me encontro com o papel e a pena.
Se vivo, eu vivo.
Se vivo mas não sinto, escrevo.

Os pingos são frutos da insatisfação
que molham guarda-chuvas de papéis escritos com memórias.
Me encontro no âmago da gênese.

Cada livro é um abismo de tristeza:
pelo que vivi e não reviverei
e pelo que não vivi e não viverei.
Ambos engolidos pelas pedras do tempo
que nos tornam gigantes.

Cada um não sabe a dor que carrega
de tão leve que é.
As horas passam e o silêncio é trocado
por festas e estas por tragédias em adagiettos.

Só quero voltar a me encontrar.
Encontrar a ideia que penso ter sido. Não sei se o papel é a melhor forma de registrar. Mas pior do que isso é sentir a dor de esquecer. Lembrar que estou vivo (por algum motivo). Sim, não é pelo papel que me encontrarei. Só uma ideia que surgiu e relembro quando não tenho muito a oferecer.
Escrevo da dor pela dor, porque me dignifico. Sinto a humanidade no próximo que amanhã poderia ter sido eu. E acreditar que a mudança de fato existe.
Quero deslumbrar auroras,
nasci para ver o rio correr
e renascer.
Poder voar para sempre encontrar um lar de terra.
Não se preocupe se um dia desaparecer. Espero que seja para me encontrar.
Ainda quero escalar montanhas.

E nisso entristeço. Escrever é uma lástima.
Quero mais que ser suposto poeta. Quero ser meus escritos.
Mais que armas, a pena com que executo este jogado de palavras
representa o mundo que se constrói. Onde reviver é encontrar motivos.

Deixarei cravos e canelas pelos labirintos.
Canoa

Fiz um casco
com um José Mauro de Vasconcelos
afundado em minha cabeça.

Não fui mais visto nas cidades.
Flexões

Poeta que é poeta escreve pra
frente.
Quem escreve pro passado
ou no agora
está no máximo perdendo o momento.

E assim se torna poeta.
Relator 

(in omissis)

Ao longo aprendi que
errar não só é preciso como inevitável entre o torto e a torta.
Que sacrifícios são àqueles a quem amamos e
aos que antes não entendíamos.
Que o final é só um ponto indolor como uma agulha
e no final somos apenas bobos e lobos.Apenas.

E por isso é preciso ter o direito de ser feliz,
e que final mesmo é para quem não tem fé
e o meio é só uma palavra.
Atravessar é preciso.

Medo é raiz para crescimento e conhecimento.
Quem julga está acima da terra morta
sendo tão semelhante...

Ignorância é nossa herança.
"Quem somos? O que fazemos e pra que viemos e blah blah blah"
Disso pelo menos ninguém nunca se esqueceu
apesar dos pesares do vento.
O início é o mais complicado e o que mais se distancia do fim.

Bondade é dançar com o diabo
quando a música permite ou não.
Glória

Talvez a maior derrota seja nunca ter perdido.

Onde qualquer buraco se torna um precipício,
onde a escuridão se torna a visão do encontro porvir,
onde o futuro de esperança se torna o gramado abandonado
que cobre a cova cheia de cicuta.

Glória àquele que teve o desespero de chorar,
pois viu na noite a origem da fé
e o sal fez a terra
que trouxe o mar.

A maior derrota foi ser vitorioso a morte inteira.
O abajur de vidro

A vida é muito curta para ser
pequena.

Muito rápida
para faxinas e rotinas.
Os quadros continuam empoeirados.

A vida foi um laço
atado num tapete mágico que voa
e voa...

onde o laranja descansa estático no apático azul
com aquele gosto de mel e sal que me cobre
com dores de beijos.
O cobre enferrujou e está tudo escuro.
As lágrimas e os cuspes são o que germinam.
Álbum

O medo é uma ilusão. Não perdura no tempo, é apenas momento.
Como fotografias cujos sorrisos continuam brilhando.
E a dor que no final é meio?
A felicidade persiste: aguentamos e persistimos. A vida é uma luta que deixamos aos outros. Até um hora termos de nos contentar em apenas deixar ir embora, e quem sabe perdoar.
Talvez sejamos personagens ocultos pelo tempo, pensamentos que volta e meia confrontamos.
Naquela dança tão chata, o tempo convida a rir ou a chorar.
Alguns dançavam para se lembrarem e outros agora dançam  para esquecer que o presente pode ser eterno.
O erro é parente da inexperiência. O tédio pai do suicida.
A dúvida é o maior veneno. A mentira é sua irmã: outra ilusão.
Mentiras desgastam e nos tragam com um vício, um mal entendido.

No bar estou e vejo a foto daquele que poderia ter sido eu ou qualquer outro.
Quisera ter errado mais e mais cedo.
Mas continuo jovem. Continuo um eterno bobo.

É o branco no abraço apertado da lembrança solidária
que o tempo revela no foto não tirada.
Vermelhos

Nas esquinas do tempo
desejos esquecidos encontro
espalhados nas dobras de meu sorriso.
Sonhos empoeirados nas quinas
e quintas afogados na lama
dos becos ao vento do coração memorioso
que bate vivo.

E os caminhos seguem os passos...

Que labirinto é esse que construímos com uma só linha
senão um espelho?