Sofrimento

Todo dia é a mesma coisa...
eu acordo sentindo um vazio.
Um vazio na barriga.
Um vazio no coração.
Vivo sem sonhos pelo distante e eterno amanhã,
pelo próximo raiar do amargo Sol
que me mostrará de novo as diferenças entre os humanos e eu
enquanto cato comida no lixo feito bicho.
Com o pouco que como
preencho a minha esparança
e pança
e pra minha barraca eu vou descansar...

Mais um duro dia...
Pra minha dura suja cama eu vou deitar
e pensar com a Lua.
Por que eu?
Por que eu?
O que fiz para tudo ser assim?
Cadê você Deus pai?
(ecos do vazio)
Por favor, não me abandone.
Você é o último que ainda não me deixou.
Meus pais já se me esqueceram
e os meus irmãos já se foram.

O que encontrarei depois?
O grito do meu silêncio não será escutado nunca?
Não é esse o meu maior pecado, hein?
Viver sem sonhar.
Existir sem pertencer ao agora?

Tenho medo de amanhã não me sentir cheio de novo
com o tão pouco de hoje.

A noite foi.
O dia chegou.
E com seus raios
um corpo gélido esquentou.
Deus a alma menino encontrou.