O sinistro Justiniano Hammaren

Escondido na escuridão
(sua maior testemunha)
mãos nervosas ansiosamente esperam
a próxima vítima que se aproxima a passos lentos
para em suas entranhas gozar a beleza do poder
de mandar na vida para só depois poder brincar
com o seu inseparável canivete suiço
enquanto a noite grita de desespero
por meio de ventos uivantes
o último suspiro perdido
ecoado no deserto imenso mato.

A luz do dia é mais um qualquer de destaque
com o seu alto salário escondido em ternos importados.
Finge trabalhar para então se focar no que faz ocasionalmente:
matar.
É o assassino que é ocultado por sorrisos e apertos de mão.

Não liga mais para o mundo em que vive.
Não liga mais para a família.
Não liga mais para a vida
(embora nutra apetite por vidas vazias e as devora).
O politicamente correto de fazer justiça com o martelo sobre a mesa no tribunal
foi aposentado pelo martelo no crânio.
De juíz a um funcionário sujo de dinheiro lavado
é o homem sem nome que enfrenta um dilema tão eterno quanto a última noite de suas vítimas:
"Existe justiça?"

Confinado em seu passageiro sombrio
faz de sua maior alegria
cortar vidas em fatias
limpando a sujeira humana com vísceras e sangue.

É o vigilante da justiça.
Justiça que nunca dorme para não ficar cega.
É a paz punidora caótica ambulante fruto podre do extinto ventre da Terra
que com seus vermes alimenta a terra morta.
Enquanto ouve pedidos agonizantes de perdão
com seu canivete pune o mal cortando-o pela raiz.
Não sente remorsos, pois afinal todo mundo é vítima.

"Que dia mais completo após tantos outros tão vazios"
diz enquanto tapa com a pá o que já foi buraco.
"Sou o anjo enviado dos céus incubido de trazer mais segurança a humanidade"
guarda no porta-malas as ferramentas e no seu corpo o instinto assassino.
"Sou a vingança cuspida da sociedade, a vaidade despida.Sou a Justiça em pessoa!"
já em seu carro.
A última luz que tinha se foi levada pelo eclipse da Lua.
Segue na estrada escura e sem vida o caminho para casa
...se é que possui agora.

Não irá para o Inferno
mas não tem asas...
A besta já exteriorizada que habita no interior de cada um
reina agora dentro e fora.
O Mal é humano.
O Mal habita a Terra.

Caso seja pego será o mal,
caso não será a justiça.
Caso lamentável...

E enquanto a Terra chora sangue
ao ver a Morte tão cheia de vida
e a Justiça só reinando entre os defuntos.
Não existe justiça no mundo dos vivos.