Janela d´alma

Se os seus olhos são a janela d´alma
quisera eu habitar a sua casa,
pois o que vejo nos olhos seus são espessas cortinas
cujo interior feito de vidro o tempo contempla e vigia
enquanto toma o seu café gelado.

O lar está abandonado
e como dois de nós frente ao espelho
sempre que nos vimos uma barreira nos separa
um do outro do toque da solidão...
mas é tudo pura ilusão.

Quando a luz te trouxe aos olhos meus
percebi que meus olhos já não eram mais meus
pois então lhes pertenciam e os roubaste
sem ao menos dizer obrigado.
E mesmo assim, esconde-se de mim e de todos
e ao me ver em seu espelho d´alma
sei que não nos pertencemos.

Como vamos nos encontrar
se o que nos separa é o mundo visto de uma janela?
Será só o tempo o que nos une?
Como me verá
se sou apenas mais um vulto projetado na sua parede sem vida opaca.

Quem sabe no dia que chover
e ao ler aconchegada mais um livro lido perto da lareira tomando café
perceberá que tudo está tão frio e desolado.
Que suas lembranças estão guardadas em retratos emoldurados.
Seu animal de estimação agora é recordação.
Quem sabe assim limpará a sua visão
e abrirá a sua janela para admirar o dia de uma nova vida
que renasce das cinzas.

Consertará os estragos causados e sentidos.
Colará os seus pedaços em cacos transformados
e verá que nem tudo está perdido.
Na janela d´alma verei os seus olhos seus
e você os meus
e perceberá que sou seu vizinho...
e que não está sozinha.

Só assim,
só assim
não estaremos mais sozinhos.