Inocência à Tradição

                     No silêncio habitual da casa o pai relia e fazia mais anotações ora em seu caderno específico ora nas próprias páginas do livro entitulado Bíblia.Tinha em mente o saudável propósito de poder melhor explicar e exemplificar (o grande desafio) a partir do pouco que sabia e que a cada dia buscava aumentar a sua ignorância ao se ver na sua breve vida iniciada evoluindo...mas tinha um problema a ser lidado: seu filho!Ele chorava e chorava sem dar trégua ao pobre pastor de espírito que estava no momento ocupado.Era só uma criança que queria a mãe...
                     Como todo ser humano em seu dever de errar, arrependeu-se ao já ver seu filho chorando com o rosto marcado com o formato de uma mão.Foi movido pelas rédeas da cólera, ou melhor, foi movido pelo próprio Satanás que rosnou em seu ouvido e o convenceu a fazer o que agora se arrependia.
                     Agora era tarde, o pior já foi feito.Só restava pedir perdão...mas era homem; e pior, homem que se orgulha de se autoproclamar macho às escondidas sem o seu uniforme que escondia sua virilidade e tantos erros de duas desventuras que cometera mundo afora.
                     -Filho...não chore...
                     Choro na casa.
                     -Filho...eu já falei...não chore-seu coração se amargurava por dentro.
                     De nada adiantava.Deve ter batido acima do necessário para a formação de um homem, ou melhor, criança.
                     -Filho, eu já falei e- seu tom de voz aumentava- não vou repetir: homem não chora!Ouviu?Não chora!-dessa vez foi decisivo.
                     Seu filho agora controlava seu choro e dor e balançando verticalmente a cabeça viu um quadro e em seguida olhava em seus olhos turvos em água e falou no pouco, porém justificável inocente ignorância o pouco que sabia.O que calou o pastor que de muito sabia um pouco:
                     -E Jesus? E Jesus, pai? Ele não chorou?