Branco fechado

Trancado entre três paredes
da humilde janela lá em cima
grãozinhos de poeira vejo no raio que me preenche
e energia sinto envolver-me e mover-me,
comprovando eu ser matéria,
dando à sombra minha reflexão
banhada em prata e silêncio
que me torna ferrugem igual a cela que me mostra o presente à frente
a saudade que não se recorda ou sente.Não sei.
Saudade que espera ser lembrada por entre grades e lacunas
como pela última vez que nossos olhos se encontraram livremente.
Mesmos olhos que zelam por mim e sei de alguma forma
uma leve pena pesar resumir-se.

Porém, eis que surge um pássaro na humilde janela.
Abre as asas e voa em minha imaginação
tornando o espaço leve e distante.
É a liberdade entrando em minha prisão,
dando asas ao meu coração.
 
O pássaro exilado apareceu no escuro para anunciar que é ilusão...
Desde então carrego em minha coluna
a marca do pecado,
o Prometeu acorrentado
pagando em meu escuro fígado a dor de deveras sentir.
A precognição do caro futuro em álcool batizado.

Em minha pele viva
carrego a prisão cujo prisioneiro é carcaça.
Cárcere de espírito, transitando livremente entre falas apenas pensadas,
tempos não vividos.
Cárcere do espírito que roubou o meu fígado...
e tempo, no qual vejo todas a cores se esconderem no prisma da verdade.

Um girassol brotou na cela
e lembro-me de tê-lo guardado em algum lugar em meu peito,
só não sei aonde.
Espero lá não ser frio.

A quarta parede quebra ao ser atravessada
pelo branco que abriu-se expandindo.