Modinha

O presente está vivinho e aqui sentado do meu lado.
Vivamos o agora para o remorso não superar a gratidão.

De todas os sentidos dessa vida, chegada a hora, meu Deus,
saudades das cores da aurora meus olhos levarão.

A luz que mais brilha é a luz que só eu vi
caminhando meus passos nas tempestades que já fui.
Só a mais escura das noites para dar luz ao entendimento
que a vida é curta demais para arrependimentos.

A nostalgia é a imperfeição tão certinha nos que se desvanecem.
A melancolia é o desejo de estar em conjunto na ausência.

Entre o certo e o difícil, eu prefiro pura e simplesmente os dois.
Só quem sabe para fazer agora a ter de esperar o esquecimento acontecer.

Dos tempos em que a felicidade se encontrava nos laranjais,
no barulho das águas escorrendo pelo rio,
nas unhas nas quais habitei a terra batida,
no cheiro de pipoca no ar dum circo qualquer
eu meço o tempo no vento que me dá tamanha lucidez:
o passado e futuro nos esperam no cemitério ao lado.

Para descomplicar as palavras que não se escrevem
eu sou o desejo que persiste e o medo o que carrego
como a chama que chama e vive nas pegadas ciprestes.
No silêncio da música está a dança da vida.

E de todas as vida, uma só me basta.
Viver um pouco, para viver bastante...isso eu sei que me satisfaz.