Às vezes

Nos dias em que um tempo me resta
vou à praia ver o sol deixar o céu.

Fecho os olhos, sinto a maresia meus ouvidos invadir e levar
e a areia meus pés varrer com a maré que vem e se vai
como pássaros no horizonte.

O momento não voltará.
Uma única última vez é o que há.
Fecho os olhos...e outro segundo se desfaz.

E o mundo continua magnífico.
E só de saber a cor do mar, o desenho das nuvens e sua chuva saborosa,
o silêncio das montanhas e o som da tempestade...
já valeu a pena ter vivido.

Para além de toda a eternidade,
a pedra úmida admiro no tronco despedaçado.
Cascalhos redondos e singelos na grama serena esverdeada.

A vida continua bela com todos seus problemas,
com suas singelas belezas explícitas a serenos olhos bem abertos.

A vida não cabe um sonho.
Há tempos estava lá, mas não vi.

Agora. Quanto tempo me restará?
Tempo este que continua envolto em neblina.
E se chover amanhã? E se algo a mais existir?

Amanhã, se conseguir compromissos talvez meus arcar,
comprometo-me a esmo comigo mesmo
e ver o sol nascer em meu ser.