Fractais

Volta e horas outras do relógio
me encontro com o papel e a pena.
Se vivo, eu vivo.
Se vivo mas não sinto, escrevo.

Os pingos são frutos da insatisfação
que molham guarda-chuvas de papéis escritos com memórias.
Me encontro no âmago da gênese.

Cada livro é um abismo de tristeza:
pelo que vivi e não reviverei
e pelo que não vivi e não viverei.
Ambos engolidos pelas pedras do tempo
que nos tornam gigantes.

Cada um não sabe a dor que carrega
de tão leve que é.
As horas passam e o silêncio é trocado
por festas e estas por tragédias em adagiettos.

Só quero voltar a me encontrar.
Encontrar a ideia que penso ter sido. Não sei se o papel é a melhor forma de registrar. Mas pior do que isso é sentir a dor de esquecer. Lembrar que estou vivo (por algum motivo). Sim, não é pelo papel que me encontrarei. Só uma ideia que surgiu e relembro quando não tenho muito a oferecer.
Escrevo da dor pela dor, porque me dignifico. Sinto a humanidade no próximo que amanhã poderia ter sido eu. E acreditar que a mudança de fato existe.
Quero deslumbrar auroras,
nasci para ver o rio correr
e renascer.
Poder voar para sempre encontrar um lar de terra.
Não se preocupe se um dia desaparecer. Espero que seja para me encontrar.
Ainda quero escalar montanhas.

E nisso entristeço. Escrever é uma lástima.
Quero mais que ser suposto poeta. Quero ser meus escritos.
Mais que armas, a pena com que executo este jogado de palavras
representa o mundo que se constrói. Onde reviver é encontrar motivos.

Deixarei cravos e canelas pelos labirintos.