Estranhos perfeitos

                    Ah!Como sonhava no dia em que encontrasse uma amiga que de repente se tornasse a sua mulher que o acompanhasse por muito tempo para não dizer para sempre até a morte os separarem e o no paraíso se reencontrarem...Sim, tinha visto tanta televisão com seus estúpidos filmes de finais felizes que estes o fizeram negar tantas mulheres que passaram pelos seus olhos e entre sua boca...só de lembrar as chances desperdiçadas esquecia-se de viver o presente e construir um futuro ao prender-se ao passado e nele viver.Claro que era culpa do seu cérebro todo cheio de buracos após ficar viciado em televisão por tanto tempo e agora sofrer as consequências da abstinência...
                    Pensava nisso e mais um pouco até:
                    -E então?Tu vai querer?
                    Era uma voz delicada e macia que penetrava em seus ouvidos e na memória era absorvida.Voltou a encarar a torta de maçã que o encarava imóvel na mesa.Deus do céu!Como tinha um nojo inexplicável de dividir comida com outros.Aquela saliva estranha...Além disso nunca experimentara uma torta de maçã na vida, apesar de adorar a fruta.Parou...pensou...e mastigava a deliciosa torta que a primeira vista parecia ser tão ruim.Deveria ser uma amizade bem verdadeira, não somente aos olhos dos dois como aos dos outros.
                    Com o passar do tempo, este revelou que a amizade se tornou de fato verdadeira.Evoluira para algo mais íntimo.Pediam conselhos e até chegaram a trocar segredos...pelo menos era isso que ele e ela pensavam...até o momento em que ele sentiu no olhar que ela queria mais...ou seria  ele?Possivelmente ela devia sentir o mesmo?Ele pensava nisso a cada vez com mais frequência até que ela ocupava a sua mente antes de dormir.Será que ela pensava o mesmo dele?Será que ela pensava nele também?Droga!Maldita hora em que seu maior desejo fora realizado!Sua raiva era saber que era justamente com quem ele se relacionava tão bem...sua melhor amiga não seria mais melhor amiga.Eram amigos e de repente algo a mais floresce na expansividade da juventude.São tão jovens...Não poderia ter sido vítima de uma outra qualquer?Espera!Ela não era uma qualquer...era sua amiga.Simplesmente dava muito valor à sua amiga e à sincera amizade.Por que não fora vítima de uma qualquer?Por que?Dessas que atraem o olhar de todos e todas ao passar?Mas ela também atrai olhares, sendo para ele em especial pela sua maneira única de ser...pouco ou nada precisaria ser mudado, pensava.Como queria continuar na amizade...era tão bom ficar ao seu lado.Queria conhecê-la até o final de sua vida.Oh droga!De novo estava na utopia...tudo estava indo tão certo para ser verdade.
                    Simplesmente fechava fechava seus olhos e abria um sorriso de tamanha alegria que ela irradiava...até que dormiu apesar de saber no fundo que o Amor destruiria aquela sincera amizade que parecia tão indestrutível.Estaria ele sonhando?Provavelmente algo tão certo só ocorreria no mundo das ideias...nem em sonho isso ocorreira.Sim!Não estava sonhando...           
                    Estava decidido a declarar o que sentia por ela e isso provavelmente todos já sabiam.Farei isso amanhã, pensava sempre no decorrer das noites antes de dormir.Porém, todo dia e toda vez ao olhar em seus olhos ele se esquecia e deixava para o amanhã.
                    O que não sabia, porém desconfiava, quer dizer a sua intuição que insitia em ser correta na maioria das vezes, era que ela pensava o mesmo...e ela também deixava também toda a sua coragem para o amanhã.
                    Ele pensava nela.Ela pensava nele.Ela esperava que ele declarasse o seu amor à ela, pois era o esperado como sempre acontecera: o homem faz algo que parecesse impossível aos olhos de todos, inclusive aos olhos de sua amada e em seguida declara o seu amor à donzela impossível na frente de todos e ela emocionada aceita sob estrondosos aplausos ocultos por olhares invejosos e os dois vivem então sem problemas e felizes até.Não queria pensar nisso.
                    Ele esperava que ela declarasse o amor que ela sentia por ele, pois estava tão acostumado com isso...e então, continuavam nesse impasse, nesse jogo do amor onde um queria submeter o outro...e seguiam na agora amizade que é Amor metamorfoseado até o tempo dominar o medo.
                    Ao caminhar pelo shopping em que foram juntos pela primeira vez pupilas se dilatam ao se encontrarem.Ele vê ela e ela ele.A amizade já estava morta.A rosa morrera sem ser aguada com amor...ou amizade.Restava apenas o nuance de alguém que conheceram na memória.Um dos dois estranhos conhecidos carregava em uma das mãos uma aliança e levava dentro de um carrinho a certeza de ter seu coração divido.Coração dividido pela pessoa acompanhante e o bebê em seu carrinho.
                    Apenas se olharam rapidamente e seguiram os seus caminhos.Não sabiam, mas sabiam de algo que não mais sabiam...