Posfácio póstumo

                     Certa vez a casa de um famoso foi vendida após sua estranha morte.Alguns milhares de fãs ainda diziam que ele estava por aí, vivo por entre nós.Outros apenas que está entre nós...O fato é que seus parentes queriam livrar-se daquela pequena casa que carregava tantas lembranças e assim tornava grande e derradeira a dor...por isso a venda.

                     Os moradores com o inicial contato com a casa ao escolherem aonde colocar suas coisas em uma das desventuras encontraram escondido sob as gavetas um diário.
                     Isso é um achado incrível, disseram todos ao verem a descoberta!Provavelmente nem os próprios parentes sabiam da existência daquilo, devido ao turbulento relacionamento que tivera com sua família somado a sua excluída vida que ousava cada vez mais se isolar.Não era de conhecimento geral que escrevia diário e possivelmente também de sua família.Ninguém sabia da existência de um diário!Sempre admitira odiar escrever sobre sua vida, por isso não escrevia.Só o defunto.
                     -O que vamos fazer?- perguntava um dos inquilinos.
                     -O quê?!Vender, ora!- disse o cabeça.
                     Resolveram vender na Internet.Foi um estouro.Ninguém sabia da existência de um possível diário, já que este fora negado pelo próprio ser enquanto vivo.Até que por estranho desinteresse descobriram que estavam sendo processados por falsificação de um documento sagrado inexistente ou algo parecido.
                     Após xingamentos foram ao julgamento.

                     Depois de muitas horas o juiz concluiu às câmeras:
                     -Só resta entregar a um especialista- disse abanando as mãos após a martelada vendo em seguida o descontentamento geral causado e que era repassado a milhares de telespectadores do mundo inteiro.Seu poder quase divino de mandar na vida futura de alguém foi impedido por memórias de um defunto.Encontrara um deus maior que ele próprio e em silêncio concluiu que só era um pedaço de carne enervada.
                     O diário foi entregue sob protesto a um especialista.O prazo de entrega do relatório informando se tudo era uma farsa ou não era para amanhã, devido à forte repercussão causada em todo o ambiente.

                     À medida que lia, o especialista se identificava com os sentimentos expressos: tão verdadeiros, ocultos e por que não humanos e também universais...
                     Já era noite e ainda nem começara o relatório embora soubesse mais que a resposta.O café já foi todo consumido e ainda assim estava preso ao diário que o consumia.
                     Desesperado por ter em suas mãos um tesouro que simplesmente devolveria hoje, simplesmente adotou a escrita do livro como inspiração a sua expirada vida; fazendo de sua vida frustada de escritor carcerário das palavras a própria escrita.
                     É claro que o diário de uma vida acabada se via incompleta nas mãos do que lia.Sua vida tinha uma missão!
                     Fugiu.
                     Cavou com as mãos o próprio abismo derradeiro que cultivou com os olhos.