Para quem os sinos tocam

                 Um homem tinha uma vida considerada unanimamente perfeita em todos os aspectos possíveis, em todas as suas letras, pingos e espaços: obtivera sucesso em tudo em que tentara, realizara tudo o que sonhara, até o momento desconhecia o significado e sensação ou sensações provindas da palavra derrota; somado ao fato de não gostar de dicionários.
                 Sua metafórica estrada era plana, lisa e reta até encontrar o infinito.Sua vida era referência para muitas pessoas.Orgulho e inveja percorriam seus caminhos que é um.
                 Porém, todavia, apesar de e de todas as palavras que impõem uma segunda condição, só ele enxergava e encontrava alguma barreira, não vista por ninguém, chamada limitação.Contemplava com uma certa melancolia as suas trajetórias e...contemplava; apenas contemplava.
                 Resolveu pegar um caminho desconhecido, uma rota alternativa; já conhecia o infinito de sua monótona estrada perfeita.O caminho era uma trilha que apesar de ocupar mais espaço; revelou-se ocupar menos tempo.
                 Estava feliz...como há tempos não se via rodeado de dinheiro, reconhecimento, conquistas, amizade e amor verdadeiros, sexo, sexo, sexo e mais prazeres e outras exclusividades que não se revela necessário comentar.
                Era um solitário errante como todo humano que assim como veio ao mundo...partiu em uma fuga até hoje misteriosa.A mesma que em mistério sepultou a dúvida no badalar de sinos do que levou o homem que tudo tinha encontrar o seu fim abrupto no suicídio cujo motivo ninguém entendeu e até hoje é motivo de discussões e debates.Teria ele entendido?
                O vazio ocupava o que ninguém mais enxergava.Estava e era em verbo e outras classes gramaticais, no mundo das palavras, no tudo.Seu corpo jazia em mais um cemitério de vivos.
                A primeira e última curva conduziu-o à Igreja: o último endereço da primeira residência.
                A curva encontrou no horizonte o sentido.A sua trajetória acabou em ponto.
                A trilha ainda prossegue; e nós como cegos, esperamos na escuridão em frente ao portão a luz que não vem à terra.A trilha prossegue...